Abri-te a porta, a medo. Sentei-me e fiquei a
observar. Entraste mesmo sem convite. Sabias que nunca te diria para o fazeres.
Sabias que estava longe do meu pensamento, do meu sentimento. Sabias que tudo
faria para te parar. Por isso entraste sem convite como que firmando a tua
convicção de que nada te impediria. E eu que luto com todas as minhas forças,
abro-te a porta, a medo. Sento-me a observar-te entrar sem convite. Ou terei
sido eu a convidar-te mesmo que as palavras não tenham sido audíveis? Serás tu
capaz de tamanha façanha? A dança que se seguiu não foi bonita de se ver. Cortejaste-me
como se o dia fosse o último. Sem fechares a porta. Cortejaste-me como se tudo
o que quisesses dizer se resumisse em três pequenas palavras. De mais ninguém. Cortejaste-me
sem fechar a porta, aquela que usaste para entrar. Para sair. Ainda me
cortejavas quando saíste. Sentado, observava-te, sem convite. Pela porta,
aberta a medo, que eu não sei fechar.
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