Tuesday, December 14, 2010

Paris

Gosto-te. Digo-te assim baixinho enquanto descanso a cabeça no teu peito. Gosto-te e nem sei bem porquê. Irritas-me diariamente com essa tua prepotência de quem não tem nada a aprender. Mas eu gosto-te e isso vale o mundo.
Um dia quiseste-me ensinar a falar mais alto. Não me conseguias ouvir. Não me conseguias perceber. E querias que gritasse. Mas como te poderia então dizer que te gosto assim baixinho enquanto descanso a cabeça no teu peito?
Ensinei-te que não tens de me ouvir. Só tens de me saber. E tu ainda que mantendo o sobrolho levantado como se fosse uma tontaria ridícula o que te dizia, aprendeste-me. Hoje sabes que quando descanso a cabeça no teu peito te digo assim baixinho que te gosto. Quase que podia apostar que o ouves mais vezes do que quantas me saem da boca.
Naqueles dias em que a prepotência se sobrepõe a mim, agarro-te pelo peito. Encosto a cabeça e nada digo. Já não precisava de o dizer. Há tanto que já não precisava dizer.
Esta nossa rotina multiplicada por múltiplos gestos que falam por nós corrói-me diariamente. Uma gota de ácido sulfúrico apenas para que a decomposição dos ligamentos seja mais lenta a cada toque meu que evitas, cada olhar que desvias, cada movimento que ignoras.
Gosto-te. Grito assim bem alto na esperança que a tua prepotência me queira ouvir. Mo deixe dizer-te de novo assim baixinho enquanto descanso a cabeça no teu peito.

1 comment:

Anonymous said...

eu gosto exatamente como você receberá o seu nível de toda