Friday, April 17, 2009

Um diálogo com a Morte

Este foi o primeiro título que me veio à cabeça. É raro começar a escrever pelo título. É como se o início só se revelasse verdadeiramente no fim. E mesmo assim tenho dúvidas. Não sei se estas são as palavras mais certas para começar. Porque não sei se é um diálogo. Porque não sei se é a Morte. Porque não sei se o que está em causa é o confronto connosco.

“Nému dormia, uma mão metida entre a cara e a almofada, nu, viajando pelo desmesurado espaço dalgum sonho de onde, certamente, Beno fora excluído. E, por instantes, este sentiu ciúmes por não poder estar dentro do sonho de Nému.
Mas com o decorrer dos meses, Beno viria a aprender que é muito difícil dormir com alguém, ser cúmplice desse abandono, dessa ausência a dois, do que fornicar.
E ambos foram aprendendo a dormir um com o outro, e Beno deixara de ter ciúmes dos sonhos de Nému.
«Fornicar - pensava Beno -, fornica-se com quem quer que seja ou quem seduzimos e desejamos. Mas dormir, dormir é muito mais complicado, leva tempo até se perder o medo de se entregar o corpo, assim...ao outro. E a lassidão dos corpos abandonados aos segredos do sono um do outro...é bela!»” (Al Berto in Lunário

Há coisas que me são difíceis de catalogar. O filme da minha vida. A música da minha vida. O livro da minha vida. Gosto do que é cru. Gosto de tudo aquilo que foge aos floreados com que gostamos de pintar as coisas não bonitas. Gosto do cru das palavras, nuas e despidas de metáforas e segundos sentidos. Gosto quando chamam as coisas pelos nomes sem ter medo de lhes chamar. Medo… Um diálogo com o Medo.

“… Os personagens que hoje habitam a cena são outros tantos tu(s) e eu(s) que se servem da tua poesia para exercitar a aproximação à NOITE de cada um de nós. Roubei-te as palavras. Será o teatro capaz de apaziguar o medo do escuro?

João Brites
Palmela, 20 de Fevereiro de 2009”

A Noite até 26 de Abril aqui.

1 comment:

Anonymous said...

intiresno muito, obrigado