Thursday, January 03, 2008

Call Girl

(Este é um post diferente. Não quero que se torne hábito, mas houve uma ou duas coisinhas que me “fizeram mossa” e achei que as devia partilhar com aquelas pessoas que por cá têm vindo.)

Polémico? Claro que sim. Infelizmente, pelas razões erradas. Bom? Mau? Não é perfeito, não é brilhante, mas supera todas as expectativas.

Como achei que mais ninguém se interessaria pelo filme, movi-me sozinho ao cinema. Ir sozinho ao cinema tem uma coisa boa. Desperta-nos os sentidos para o que nos rodeia, para a experiência quase sociológica que é observarmos os comportamentos das outras pessoas. O filme até estava a passar numa sala relativamente grande. Inexplicavelmente, acho que era das, senão mesmo a pessoa mais nova. E já não me considero assim de tão tenra idade. Digo inexplicavelmente, porque sempre pensei que o desejo de ver a Soraia Chaves nua despertasse o interesse dos adolescentes.

Primeiro fenómeno quase sociológico: como estava a dizer, a sala não era assim tão pequena quanto isso (quem conhece a Sala 1 do Monumental sabe que ainda leva algumas pessoas). Escolhi cuidadosamente o lugar mais ou menos ao centro da sala sem lugares marcados. Quando dei por mim, tinha pessoas dos dois lados. Convenhamos que, sendo que a sala deve ter uns bons 200 lugares e nós não devíamos ser mais do que 50, é no mínimo estranho.

Voltando ao filme, a nudez de Soraia Chaves em Call Girl não se assemelha à pornografia gratuita em Crime do Padre Amaro. É uma nudez sensual, calculada, meditada e perfeitamente enquadrada na personagem. Sejamos realistas e deixemo-nos daquele falso puritanismo britânico. Ela representa o papel de uma puta de luxo que gosta de o ser. Era difícil aparecer vestida da cabeça aos pés, com gorro, luvas e cachecol.

No entanto, e apesar de o nome sugerir o contrário, a verdade é que esta é talvez a parte menos importante do filme. Call Girl, embora sendo muitas vezes supérfluo, fala de corrupção ao mais alto nível. Fala de um país corrompido pelo dinheiro, pelo sexo. Fala de violência. Fala de droga. Devia ter trazido para a ordem do dia, temas como a troca de favores e de influências. Em vez de se debater se Soraia Chaves sabe ou não representar ou se devia ou não mostrar os seios no grande ecrã. Ou será que nenhum dos órgãos de comunicação social neste país teve a capacidade de ver que o tema central do filme é a corrupção política que envolve Presidentes de Câmaras, Ministros e consórcios económicos?!

Deixo-vos apenas mais duas notas que achei... hum... interessantes.

Segundo fenómeno quase sociológico: tem sexo e nudez, é um mau filme; despe-se, não sabe representar. Não é que ache que a Soraia Chaves é uma grande actriz e até acho que mesmo para ela não foi uma grande escolha fazer este papel neste momento da sua carreira. Não é um papel fácil. Acho que requer muitos anos de experiência. Mas também não me parece que ela seja assim tão má.

Terceiro fenómeno quase sociológico: é a ver estes filmes que se sente o que verdadeiramente incomoda a nossa sociedade. E é fabuloso como as pessoas se riem de igual forma de três situações tão distintas como uma bandeira do PCP a tapar um caixão, fotografias de sexo e cenas mais ou menos explícitas sobre homossexualidade. Dá que pensar…

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