Acordei sobressaltado. Tinha acabado de me ver estendido no chão, a mancha de sangue ao nível do peito, a faca ainda cravada.
Poucos segundos depois estava de novo a dormir. Um sono calmo, sereno, com vozes de anjos e músicas celestiais. Olhei-me num espelho que se encontrava na entrada da casa. Tentei encontrar o meu corpo, mas não fui capaz. Apenas vultos. Não estava sozinho. Tinha-me partido em muitos, vários, múltiplas perspectivas de mim mesmo, todas as máscaras que tinha usado em vida. Era como se o espelho me mostrasse tudo o que havia sido, me mostrasse todos os papéis que havia representado. O mais nítido, aquele que de frente olhava o espelho era sem dúvida o mais horrível deles todos. Não me reconheci em nenhum daqueles vultos. Aquele não era eu, sabia-o. E contudo conseguia identificar cada uma daquelas expressões, cada um daqueles sorrisos fingidos, daquelas falsas lágrimas derramadas, daqueles sentimentos de alegria pela desgraça alheia. Mas não podia ser. Não queria acreditar. Não podia ser eu...E então, a faca... A dor... Olhei-te ainda uma última vez nos olhos. E a dor transformou-se numa profunda alegria. Finalmente vingavas todo o mal que te tinha feito, todo o mal que te estava a fazer, todo o mal que não tive oportunidade de te infligir. Isso alegrou-me. Alegrou-me saber que aquele corpo horrendo nunca mais deambularia pelo mundo. Alegrou-me saber que finalmente poderia ressuscitar, enquanto alma, sentimento, amor, aquela parte de mim já há muito perecida.
E tu sorriste. Sorriste ao ler-me os olhos. Sorriste com o meu agradecimento. Sorriste ao saber que aniquilando o homem das máscaras, me estavas a dar a vida que nunca tinha tido, que sempre desejara...
20/11/2003
Poucos segundos depois estava de novo a dormir. Um sono calmo, sereno, com vozes de anjos e músicas celestiais. Olhei-me num espelho que se encontrava na entrada da casa. Tentei encontrar o meu corpo, mas não fui capaz. Apenas vultos. Não estava sozinho. Tinha-me partido em muitos, vários, múltiplas perspectivas de mim mesmo, todas as máscaras que tinha usado em vida. Era como se o espelho me mostrasse tudo o que havia sido, me mostrasse todos os papéis que havia representado. O mais nítido, aquele que de frente olhava o espelho era sem dúvida o mais horrível deles todos. Não me reconheci em nenhum daqueles vultos. Aquele não era eu, sabia-o. E contudo conseguia identificar cada uma daquelas expressões, cada um daqueles sorrisos fingidos, daquelas falsas lágrimas derramadas, daqueles sentimentos de alegria pela desgraça alheia. Mas não podia ser. Não queria acreditar. Não podia ser eu...E então, a faca... A dor... Olhei-te ainda uma última vez nos olhos. E a dor transformou-se numa profunda alegria. Finalmente vingavas todo o mal que te tinha feito, todo o mal que te estava a fazer, todo o mal que não tive oportunidade de te infligir. Isso alegrou-me. Alegrou-me saber que aquele corpo horrendo nunca mais deambularia pelo mundo. Alegrou-me saber que finalmente poderia ressuscitar, enquanto alma, sentimento, amor, aquela parte de mim já há muito perecida.
E tu sorriste. Sorriste ao ler-me os olhos. Sorriste com o meu agradecimento. Sorriste ao saber que aniquilando o homem das máscaras, me estavas a dar a vida que nunca tinha tido, que sempre desejara...
20/11/2003
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