Sunday, January 29, 2006

Lado a Lado

«Isto a maioria das pessoas não entende. Não compreende que quando caímos e nos levantamos estamos na realidade a seguir em frente, que uma verdadeira queda implica a morte. Por isso vivemos todos vidas paralelas, agarramo-nos aos outros para não largarmos a corda. Somos suficientemente egoístas para gostarmos mais deles do que de nós.»
Bernardo

Por vezes, quando escrevo, tendo a criar mentalmente uma banda sonora. Há alturas em que esta incorpora o próprio texto. Se vasculharem com cuidado este pobre blog encontrarão alguns exemplos disso mesmo. Noutras alturas serve de inspiração para as palavras. Talvez porque aquilo que escrevemos projecta de alguma forma a nossa realidade. Assim sendo, na realidade, talvez esteja apenas a conceber a banda sonora da minha vida.
Hoje, criei uma banda sonora para o Bernardo. Alguns de vocês saberão de quem estou a falar, outros nem por isso. Ao conceber a personagem veio-me à cabeça que tipo de música ouviria, mas nunca artistas em concreto. Ao regressar do cinema, a ouvir música, apercebi-me de como duas letras (curiosamente com o mesmo nome e cujas letras aqui vos deixo) espelham aquilo que o Bernardo é, sente e profere. Lado a Lado! Com a vida, com os amigos, com o amor…

Somos dois caminhos paralelos
Vamos pela vida lado a lado
Doidos que nós somos
Loucos que nós fomos
Nem sei qual é de nós mais desgraçado
Lado a lado meu amor mas tão longe
Como é grande a distância entre nós
O que foi que se passou entre nós dois que nos separou
Porque foi que os meus ideais morreram assim dentro de mim
Ombro a ombro tanta vez mas tão longe
Indiferença entre nós quem diria
Custa a crer que tanto amor tão profundo amor tenha acabado
E nós ambos sem amor lado a lado
Fomos no passado um só destino
Somos um amor desencontrado
Doidos que nós somos
Loucos que nós fomos
Não sei qual é de nós mais desgraçado
Lado a lado meu amor mas tão longe
Como é grande a distância entre nós
O que foi que se passou entre nós dois que nos separou
Porque foi que os meus ideais morreram assim dentro de mim
Ombro a ombro tanta vez mas tão longe
Indiferença entre nós quem diria
Custa a crer que tanto amor tão profundo amor tenha acabado
E nós ambos sem amor lado a lado
Somos dois caminhos paralelos
Vamos pela vida
Lado a Lado
Donna Maria

Há gente que espera de olhar vazio na chuva, no frio, encostada ao mundo, a quem nada espanta, nenhum gesto, nem raiva ou protesto, nem que o sol se vá perdendo lá ao fundo.
Há restos de amor e de solidão na pele, no chão, na rua inquieta. Os dias são iguais já sem saudade nem vontade, aprendendo a não querer mais do que o que resta e a sonhar de olhos abertos nas paragens, nos desertos, a esperar de olhos fechados sem imagens de outros lados, a sonhar de olhos abertos sem viagens e regressos, a esperar de olhos fechados outro dia lado a lado.
Há gente nas ruas que adormece, que se esquece enquanto a noite vem. É gente que aprendeu que nada urge, nada surge porque os dias são viagens de ninguém a sonhar de olhos abertos nas paragens, nos desertos, a esperar de olhos fechados sem imagens de outros lados, a sonhar de olhos abertos sem viagens e regressos, a esperar de olhos fechados outro dia lado a lado.
Aprende-se a calar a dor, a ternura, o rubor, o que sobra de paixão. Aprende-se a conter o gesto, a raiva, o protesto. E há um dia em que a alma nos rebenta nas mãos a sonhar de olhos abertos nas paragens, nos desertos, a esperar de olhos fechados sem imagens de outros lados, a sonhar de olhos abertos sem viagens e regressos, a esperar de olhos fechados outro dia lado a lado.
Mafalda Veiga

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