Wednesday, October 13, 2004

Sem título II (mais uma tentativa frustrada)

Rasguei a tua carta mal acabei de a ler. Foste cruel. Não poderia ter imaginado que tanto rancor habitasse o teu coração. Rasguei-a, mas as palavras continuaram a ecoar dentro de mim. Fechava os olhos e lá estavam elas. Uma por uma reagrupavam-se trazendo a dor. Talvez pudesse ter sido diferente. Não sei, não sei mesmo. Quero acreditar que não. Quero acreditar que o destino teve uma palavra a dizer. Talvez me esteja apenas a iludir. Sei que é essa a realidade. Não importa. A forma como puseste as coisas fez-me ter a certeza de estar correcto. Fiz o melhor, para o melhor. Pode não ter sido o melhor para ti. Foi o melhor para mim. Todos temos, a dada altura das nossas vidas, a necessidade de ser egoístas. Sou egoísta. Admito-o sem mágoa, vergonha. Por vezes interrogo-me se serei má pessoa. Se terei sido um mau amigo. O que é ser um bom amigo? Coloco-me esta questão diversas vezes. Ao ler a tua carta. Ao sentir aquelas palavras a penetrarem-me, alvejarem-me no mais carente e frágil que há em mim. Tive nesse momento uma revelação. Apercebi-me que nada podia ter feito para mudar o curso dos eventos. O rancor dentro de ti era já demasiadamente arrebatador. Adoro-te. Amo-te. Daria a minha vida por ti. Por te adorar tanto não posso deixar que me continues a magoar. O meu bem-estar é essencial. Sei que nunca me compreenderás. Não importa. Vou carregar os meus sentimentos por ti até à campa. Tal como as palavras da tua carta que eu rasguei mal acabei de a ler.

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