Sunday, October 17, 2004

"Farás sempre parte de mim"

Hoje sinto-me feliz. Sinto-me feliz por teres feito parte de mim. Por já não fazeres parte de mim. Ao mesmo tempo uma tristeza percorre-me as veias. A tristeza de já não te ter. A tristeza de um dia ter cheirado o teu corpo, ter sentido o teu abraço, ter saboreado o teu beijo na minha face a percorrer-me os nervos.
As tuas palavras ecoam ainda no meu coração. Rasguei a carta que me deste poucos segundos depois de a ler. Rasguei-a há meses. Podia, ainda assim, recitar-ta hoje, aqui, agora... Sinto-a dentro de mim da mesma forma q sinto as tuas mãos a passar no meu cabelo. Lembro-me daquela noite que passámos juntos. Lembro-me de como foi mágica... como o mundo parecia acabar ali, naquele momento em que partilhámos as nossas vidas.
E as tuas últimas palavras retornam ao meu pensamento. Retornam mesmo quando já te esqueci. Ou julgo ter esquecido. Retornam quando já te matei. Tenho a certeza que te matei. Esqueci. Sinto-o a percorrer-me o sangue. E sinto a alegria e a tristeza da tua morte.
Tentei manter-te junto a mim. Tentei ser teu amigo. Tentei ultrapassar-te sem te matar. Não consegui. Peço desculpa... a ti, a mim. Senti a tua falta durante muito tempo, durante demasiado tempo. Já não a sinto da mesma forma. Ontem vivias ainda dentro de mim. E a perda de um ser vivo é muito mais dolorosa que a de um ser morto. Serviste-me de inspiração para muitas lágrimas. Lágrimas não choradas. Lágrimas sentidas, vividas, percorrendo o peito, inundando o coração, quase me sufocando.
Hoje morreste. As lágrimas já não correm. Consegui secar o leito. Por entre a alegria e a tristeza da tua morte prevalece a felicidade de me sentir livre para continuar a viver.
Farás sempre parte de mim... na vida... ou na morte...

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