
Quando me fazes mais falta vou à praia. Sento-me numa qualquer pedra e deixo-me ficar a observar as gaivotas. Sigo-lhes o rasto enquanto pairam por ali, até voarem para longe. Faz-me recordar. É como se, nos momentos em que elas pairam, tu estivesses ali, junto a mim. Nos dias de sorte, há uma que se chega mais perto. Pousa na pedra onde me sento. Fita-me até um de nós baixar a cabeça em sinal de consentimento com algo que ambos desconhecemos. E depois voa. Para longe. De mim.
Quando me fazes mais falta percorro o tempo, as memórias. Agarro naquela mesma concha que ainda faz de amuleto às minhas viagens. A esta distância pode parecer irreal, ridículo ou uma mera superstição, mas é como se me protegesse. É como se te sentasses no lugar do pendura e aquela chapa se tornasse invencível, intransponível. Como se nada nos pudesse atacar. Agarro a concha, fecho os olhos, perco-me.
Quando me fazes mais falta vou buscar o papel, a caneta. Caneta na mão em contacto com o papel, a libertar-se. Deixo-a tomar conta da minha mão, do meu cérebro, dos meus pensamentos. Perco-me em mim. Comigo. Até que amanhã seja hoje, hoje seja ontem e a certeza do movimento constante se volte a apoderar do meu ser.

1 comment:
Quando me sinto só vou à praia.
Talvez o mar me faça ver o sol enquanto ele nasce.
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