Não sou boa pessoa. Não serei má, mas não sou boa pessoa. Digo-o alto e em bom som para quem quiser ouvir. Mas por norma os outros não querem ouvir o que temos para dizer. E depois ficam muito surpreendidos quando agimos de acordo com o que dizemos. É a banalização das palavras. Por isso prefiro o silêncio. Prefiro falar quando sinto o que digo. Mesmo que só o sinta por uma ínfima fracção tão pequena quanto um milésimo de segundo.
Não sou boa pessoa. Nem sei mesmo se serei o melhor dos amigos. Na maior parte das vezes, falta-me as boas palavras. As bonitas. O salto de alegria e contentamento que expressa a aceleração em que o meu coração fica por estar tão ou mais feliz que eles. A mão a bater nas costas nos momentos menos bons da vida. Nem sei mesmo se serei o melhor dos amigos porque raramente tenho para dizer aquilo que as pessoas querem ouvir. As palavras saem-me duras da boca. Formam-se como pedregulhos nas cordas vocais, expelidos a grande velocidade pela minha língua de encontro a quem as ouve. E sei que não vou mudar. Não por ser velho, não por não saber ser doutra forma. Por não querer. Não sou boa pessoa e não me quero mutar numa qualquer falsificação mais agradável para os demais.
Não sou boa pessoa. Rio-me de tudo. Rio-me de todos. Começo por mim. Talvez por isso, ao contrário das boas pessoas que por aí andam, tenha uma forma muito peculiar de escolher os meus amigos. Os meus amigos não são aqueles a quem eu ligo quando o meu céu fica mais cinzento. Os meus amigos não são aqueles cujo ombro anseio quando quero chorar. Os meus amigos não são aqueles que me passam a mão pelas costas e me dizem que vai correr tudo bem. Os meus amigos são muito mais que isso, porque isso posso fazer com qualquer desconhecido que agarre na rua e tenha cinco minutos para me ouvir. E esse desconhecido pode efectivamente dizer-me que vai ficar tudo bem sem que eu me chateie com ele por me ter mentido. Os meus amigos são aqueles com quem eu partilho o melhor. De mim, do que há em mim, do que acontece em mim. Os meus amigos são aqueles a quem me apetece telefonar quando há uma boa notícia. Os meus amigos são aqueles que eu tenho de juntar à minha volta quando algo de bom acontece. Quando quero dar uma gargalhada. Quando preciso de me rir de mim. Os meus amigos são aqueles com quem eu celebro. Mesmo quando a única coisa que há para celebrar é o facto de podermos estar ali naqueles dias em que o azul é mais escuro.
Dos meus amigos, espero o mesmo.
4 comments:
Os meus amigos são amigos como tu: com quem rio e com quem falo. E de quem espero tanto as tais palavras duras de que falas, como o abraço (que também sabes dar. Melhor do que pensas, às vezes sem o dares, fisicamente)
Dizes que não és boa pessoa. Nenhum de nós é. Não é fantástico? Valha-nos dize-lo e não alimentar falsas esperanças ;)
P.S- eu avisei que se estivesses aqui o comentário sairia bem melhor e natural ;)
As tuas pedras fazem feridas de corte limpo. Daquelas que saram e não fica cicatriz! E a tua gargalhada aquece por dentro. Não serás boa pessoa (sei do que falas, vou sentar-me ao teu lado no inferno!)... mas és óptimo amigo!
Isso também não será uma carapaça que tu próprio procuras criar? :)
O que é uma carapaça? O facto de ser má pessoa? Não! Eu sou mesmo má pessoa. Não sou é má pessoa para todas as pessoas. :P
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