Friday, February 06, 2009

Parque de Diversões

Sai! Deixa a minha cabeça e regressa a essa tua vidinha de desprendimento. Sozinho. Sem ninguém. Sem saber o que é amar para além das teorias que apregoas como se fosses senhor e dono do conhecimento sobre os sentimentos. Eu não sou assim. Eu já não sou assim. Tu não sabes nada. Não podes saber. Nunca te entregaste à sabedoria e à experiência empírica das coisas. Não sabes sentir com o peito, só com essa massa cinzenta que produz palavras bonitas. Porque me arrastas para o mesmo abismo de sempre? Queres-me neste limbo oscilando entre a esperança de sermos e a tristeza de nunca lá chegarmos. Vais-me alimentando em doses minimais com a tua ternura, a tua atenção para logo de seguida desapareceres nesse teu mundo no qual ninguém penetra. Usas essa bolha invisível que não consigo trespassar como uma protecção contra a vontade de te conectares. Liga-te ou desliga-me. Obrigas-me a sofrer com a tua intermitência. Desculpa, obrigas-me a ir sofrendo com a tua intermitência. Obrigas-me a um sofrimento baloiçante que tento suster no ar na expectativa do teu aparecimento por baixo de mim, na expectativa de que estejas lá em baixo na eventualidade de eu optar pelo salto, na expectativa de que um dia fiques ou te sumas de vez, na expectativa de deixar de sofrer. Sustenho-me e deixo de sentir o calor na cara quando baloiço para trás, ganhando o balanço necessário, e sempre adjuvado pelo vento traseiro que permite um empurrão brusco, ora para o arco-íris, ora para o centro de uma tempestade electrificante. Sustenho-me e deixo de sentir a chuva na cara que cai ora atrás, ora à minha frente. Porque me obrigas a não sentir para travar a capacidade sensorial de ser inundado do mal que me fazes diariamente com a tua indiferença? Porque me obrigas a não sentir para travar a capacidade sensorial de ser inundado do bem que me fazes diariamente com o teu ser doce? Abraças-me com o teu olhar e preenches-me do desejo de sentir os teus braços envolverem-me, protegerem-me, segredarem ao meu corpo que não vais mais partir. Olho-te sem conseguir ver o que escondes, sem conseguir adivinhar se estás curado dessa tua doença que não te permite ligares-te a mim, sem conseguir perceber se é apenas a mim. O céu é adornado por uma paleta proporcionalmente mais nítida quanto maior o estrondo do barulho dos teus trovões. Sinto-me mais próximo do arco-íris a cada regresso teu da mesma forma que sinto o brilho de cada raio perigosamente mais reluzente no metal que sustenta a plataforma em que me sento, em que baloiço, em que oscilo. Desejo, espero, acredito no cessar do teu medo, no definhar do teu desprendimento, na mortandade da tua solidão, nas propriedades osmóticas dessa bolha que me assimilará para junto, para dentro de ti. Não saias!

4 comments:

Anonymous said...

"Liga-te ou desliga-me."

frase brilhante...

someofme said...

Confesso que foi completamente inconsciente. Quando reli achei que me tinha enganado e depois percebi que não ;)

Anonymous said...

se calhar as melhores ideias saem assim, ao engano ;)

e nós somos pessoas de andar ao engano, ou não? eheheh

beijoca

someofme said...

Somos! Ah pois claro que somos!