Há certamente vários processos de escrita. Desconheço todos. Há, no entanto, algo que me dá um gozo particular fazer. Gosto de me deixar levar pelas músicas e de verbalizar os lugares para onde elas me levam.
Hoje foi um dia quase perfeito, verdade. E antes de ir jantar, ouvi esta música e soube que teria de escrever algo. Não sabia o quê, não sabia onde começar e muito menos conhecia o rumo que o texto tomaria. Coloquei a música em repeat e simplesmente deixei que os dedos tocassem nas teclas. Não se trata de uma interpretação. Apenas o lugar para o qual me deixei transportar.
Agradeço a quem me deu a conhecer a música por ter permitido este momento. E convido-vos a porem-na a tocar antes, depois ou enquanto lêem o texto, embora recomende a última opção.
Hoje foi um dia quase perfeito, verdade. E antes de ir jantar, ouvi esta música e soube que teria de escrever algo. Não sabia o quê, não sabia onde começar e muito menos conhecia o rumo que o texto tomaria. Coloquei a música em repeat e simplesmente deixei que os dedos tocassem nas teclas. Não se trata de uma interpretação. Apenas o lugar para o qual me deixei transportar.
Agradeço a quem me deu a conhecer a música por ter permitido este momento. E convido-vos a porem-na a tocar antes, depois ou enquanto lêem o texto, embora recomende a última opção.
Sentei-me no chão enquanto te via encaminhares-te para o piano, grande, preto, de cauda. As primeiras notas custaram a sair. Havia tempo que não te sentavas em frente ao teu menino. Pensei que fosses tocar um dos clássicos, mas surpreendeste-me com a tua voz. Sabia o quanto gostavas de interpretar melodias de outros, de cantores que se fazem acompanhar pelo teu melhor amigo, mas nunca me tinhas deixado entrar. Questionei-me o que teria acontecido para se terem zangado.
O vosso reencontro rapidamente entregou estes meus pensamentos ao vento. Nunca tinhas tocado tão bem. Nunca teria imaginado que a tua voz se colasse de forma tão perfeita, como se fossem duas forças opostas que se atraíam, ao som que emanava por obra dos teus dedos. Desejei que a vida funcionasse como um gira-discos no qual com um simples toque podemos colocar tudo em repetição. Desejei que ficasses afónico por não poderes parar de cantar, que os teus dedos ensanguentados não mais conseguissem travar o movimento contra as teclas.
Perdi-me nas palavras, no poema que gritava por nós. Ainda mal tinhas chegado ao fim da primeira estrofe e já eu acreditava que interpretavas um original meu que tu tinhas musicado. Deixei que imagens da nossa vida fossem a banda sonora mental para este momento. Alternava o olhar entre os teus lábios e a parede branca que a cada meu pestanejar mudava de fotografia. Sem querer, numa pequena fracção de segundos cruzei o meu olhar com o teu e vi-te afastá-lo para a parede com o mesmo sorriso interior que eu sentia.
Cerrámos os olhos ao mesmo tempo, tenho a certeza. Cerrei os olhos para que te apoderasses mais uma vez de mim, para nos sentirmos uno. Elevaste-me aos céus e afundaste-me nos infernos. Trouxeste-me de volta à terra. Confesso-te que muito dificilmente conseguirás que tenha um orgasmo maior, mais perfeito. Abri os olhos e acendi um cigarro, aquele que gostamos de fumar em conjunto, a olhar-nos sempre que fazemos amor, no momento exacto em que os teus lábios pararam de se movimentar, os teus dedos se separaram do piano e tu te voltaste para mim, a fitar-me.
Quebrei o silêncio com uma gargalhada que ecoava pela sala por todas as situações embaraçosas que a nossa transcendente capacidade de união já nos proporcionou. Percebeste e juntaste-te a mim.
6 comments:
Excelente texto... Por vezes também gosto de me deixar levar pelas músicas, ou então por imagens. Costumam ser um bom ponto de partida.
Abraço
Obrigado :)
Sim, as músicas são excelentes pontos de partida e, mais que isso, povoam a nossa vida de uma forma que raramente nos apercebemos verdadeiramente.
Um dia hei-de deixar aqui a banda sonora da minha vida ;)
... Ou não vai reunir a banda sonora da tua vida aqui, porque estarás demasiado ocupado a viver para que deixes resisto do que te marcou...
A banda sonora da tua vida tem milhares de tons, alguns não partilháveis... ;) Partilha os que conseguires mas não tentes partilhar todos...!
Não sei porque é que me apeteceu dizer-te isto... Farás, obviamente, o que entenderes...
(já sabes que te amo ler)
... Deixas-me sempre neste mood, meio dependurada.... Apetece-me sair da Joneson e ir... de encontro ao que quero... enrolar-me no que quero... Ir, mesmo que seja só pelo sake de ir... Sabes?!... Sair das 4 paredes e das 3 dimensões... E sair... e ir!
Sway... Sway... Sway... GO OUT! Se há coisa que o je tem aprendido é que nada fica paradinho à nossa espera... portanto é mesmo melhor que corramos para nos enrolarmos naquilo que queremos ;) (even though it's fucking scary)
Quanto à banda sonora... mesmo que quisesse partilhar toda, seria impossível... basta partilhar aquelas músicas que tocam o suficiente sem tocar demasiado para não se tornarem numa "arma" contra nós ;)
"portanto é mesmo melhor que corramos para nos enrolarmos naquilo que queremos ;) (even though it's fucking scary)"
You have no idea how fucking scary it is... and how well it fits my problem!!!
Do you own a crystal ball?!?! Are you a wizard?!?!...
(em breve -espero - haverá coragem e momento para me enroscar no que quero!... O momento está cada vez mais próximo e a coragem... bem, essa ainda falta, in all honesty!)
Não tenho bola de cristal, mas diz que sou bruxo ;)
(em breve - espero - perceberás que a coragem não é necessária para nada! Tudo o que é preciso é o momento ;) Portanto, vai-te a ele!!! Que eu estou a dizer-me o mesmo...)
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