"Onde estou?", perguntou.
"Estás na Terra do Nada.", respondeu uma jovem voz, cabelos loiros compridos, olhos azuis desafiantes.
Olhou em volta. Utilizou os olhos como máquina fotográfica para que um dia pudesse descrever aquele local, aquela terra, o nada mais repleto que alguma vez vira. Nos seus sonhos, costumava deslocar-se para um sítio imaginário que apelidava de Nada. Uma imensa planície sem fim, sem início, repleta de... nada. Um sonho de criança muito diferente desta Terra, pelo que não podia estar a sonhar. Havia árvores, vermelhas. Havia luz e milhares de arco-íris pois as gotas que caíam das folhas bem podiam ser prismas. Parecia ter chovido apesar do céu branco não ter uma única nuvem. Talvez fossem lágrimas, constatou. Havia dois rios laranja cujo fim não era capaz de avistar. E o solo, esse era preto. De um negro tão profundo e intenso como nunca vira. Era como se as múltiplas cores dos múltiplos arco-íris se unissem para formar toda aquela escuridão. Por momentos imaginou de que cor seria o solo se as árvores ficassem sem lágrimas...
"Estou a sonhar, não estou?"
"Porque colocas essa pergunta como se me estivesses a pedir autorização? És livre de sonhar."
"Claro que sou livre de sonhar. Mas não foi isso que perguntei. Estou a sonhar?"
"Queres estar a sonhar?"
"Pára de me responder com outra pergunta. Como se eu soubesse, tivesse de saber ou devesse saber a resposta. É isto um sonho? És tu um sonho? Estou a falar sozinho?"
"Estás a falar comigo."
Fez-se silêncio. Ele esperava que ela acabasse de lhe responder. Ela limitou-se a fitá-lo. Sentiu-se invadido. Começou por desviar o olhar até que o desconforto se tornou de tal forma insuportável que se levantou e se posicionou de costas para aqueles olhos. Ela, nem um pestanejar, nem um fio de cabelo se moveu.
"Pára! Porque me olhas assim? Porque não me respondes? Porque estou eu a sonhar contigo?"
"Então sempre estás a sonhar?"
"Não sei. Diz-me tu. Estou a sonhar?"
"Estás na Terra do Nada."
"Isso já eu sei. Já me tinhas dito."
Fechou os olhos com muita força. Tentou chamar a si as memórias das últimas horas. Tinha saído do emprego e tinha ido directo para a festa. Não bebeu nada, não se drogou porque o dia seguinte era importante e temeu a ressaca. Deixou a festa a meio e... Nada.
"Estou morto. É isso. Estou morto, não estou? E tu és algum tipo de guardiã ou recepcionista da passagem para a minha próxima vida. É isso, não é?"
"Mas não estavas a sonhar? Afinal estás morto?"
Sentiu uma ligeira variação na até então completamente calma e meiga voz. No entanto, e apesar de estar de costas, se questionado, juraria que não houve uma única alteração na expressão da rapariga.
"Esperava que tu me ajudasses a descobrir."
"Estás na Terra do Nada."
Invadido pelo desespero, venceu o medo daquele olhar, voltou-se, irrompeu em fúria para o azul e parou apenas a pequenos milímetros. Ficou estático.
"Estás na Terra do Nada.", respondeu uma jovem voz, cabelos loiros compridos, olhos azuis desafiantes.
Olhou em volta. Utilizou os olhos como máquina fotográfica para que um dia pudesse descrever aquele local, aquela terra, o nada mais repleto que alguma vez vira. Nos seus sonhos, costumava deslocar-se para um sítio imaginário que apelidava de Nada. Uma imensa planície sem fim, sem início, repleta de... nada. Um sonho de criança muito diferente desta Terra, pelo que não podia estar a sonhar. Havia árvores, vermelhas. Havia luz e milhares de arco-íris pois as gotas que caíam das folhas bem podiam ser prismas. Parecia ter chovido apesar do céu branco não ter uma única nuvem. Talvez fossem lágrimas, constatou. Havia dois rios laranja cujo fim não era capaz de avistar. E o solo, esse era preto. De um negro tão profundo e intenso como nunca vira. Era como se as múltiplas cores dos múltiplos arco-íris se unissem para formar toda aquela escuridão. Por momentos imaginou de que cor seria o solo se as árvores ficassem sem lágrimas...
"Estou a sonhar, não estou?"
"Porque colocas essa pergunta como se me estivesses a pedir autorização? És livre de sonhar."
"Claro que sou livre de sonhar. Mas não foi isso que perguntei. Estou a sonhar?"
"Queres estar a sonhar?"
"Pára de me responder com outra pergunta. Como se eu soubesse, tivesse de saber ou devesse saber a resposta. É isto um sonho? És tu um sonho? Estou a falar sozinho?"
"Estás a falar comigo."
Fez-se silêncio. Ele esperava que ela acabasse de lhe responder. Ela limitou-se a fitá-lo. Sentiu-se invadido. Começou por desviar o olhar até que o desconforto se tornou de tal forma insuportável que se levantou e se posicionou de costas para aqueles olhos. Ela, nem um pestanejar, nem um fio de cabelo se moveu.
"Pára! Porque me olhas assim? Porque não me respondes? Porque estou eu a sonhar contigo?"
"Então sempre estás a sonhar?"
"Não sei. Diz-me tu. Estou a sonhar?"
"Estás na Terra do Nada."
"Isso já eu sei. Já me tinhas dito."
Fechou os olhos com muita força. Tentou chamar a si as memórias das últimas horas. Tinha saído do emprego e tinha ido directo para a festa. Não bebeu nada, não se drogou porque o dia seguinte era importante e temeu a ressaca. Deixou a festa a meio e... Nada.
"Estou morto. É isso. Estou morto, não estou? E tu és algum tipo de guardiã ou recepcionista da passagem para a minha próxima vida. É isso, não é?"
"Mas não estavas a sonhar? Afinal estás morto?"
Sentiu uma ligeira variação na até então completamente calma e meiga voz. No entanto, e apesar de estar de costas, se questionado, juraria que não houve uma única alteração na expressão da rapariga.
"Esperava que tu me ajudasses a descobrir."
"Estás na Terra do Nada."
Invadido pelo desespero, venceu o medo daquele olhar, voltou-se, irrompeu em fúria para o azul e parou apenas a pequenos milímetros. Ficou estático.
4 comments:
Já antes sonhei com o mundo do "Nada"...
É estranho, porém tão certo do que é a imaginação.
Gostei muito.
"Porque colocas essa pergunta como se me estivesses a pedir autorização? És livre de sonhar."
:P
;)
Não sei porquê quando li que ele podia estar morto, fechei os olhos com força e pedi que estivesse só a sonhar...
Hoje em dia não suporto a ideia de morrer com alguma coisa pendurada para fazer, percebes o que quero dizer?!?!
... Numa nota mais "terrena"... Para quando um cofs?!?! ;)
Sim, percebo o que queres dizer... mas acho que ele não está morto ;) Não sinto vontade de o matar.
Quanto ao terra à terra... I'm all yours. Tell me when and I'll be your bitch. :P
Post a Comment