Monday, February 25, 2008

Chorou



Levantou-se e saiu e caminhou para o carro e sentou-se em frente ao volante e ligou o motor e acendeu as luzes e introduziu a mudança e destravou o carro e arrancou. No final, o vazio. E arrancou em direcção ao tudo que era aquele lugar onde se sentia quente e calma. No final, o vazio. E ao chegar, tirou a roupa e deitou-se e aninhou-se e sentiu as primeiras gotas a caírem pelo rosto. No final, o vazio. E chorou e chorou e chorou e chorou e chorou e chorou e chorou durante horas a fio e chorou durante tantas horas quanto os anos que tinha estado sem chorar e a cada hora por cada ano juntou mais uma hora por cada momento em que queria ter chorado e não chorou. Chorou. No final, o vazio. E quando as lágrimas pararam de escorrer sentiu-se esvaziada de todas as forças e fechou os olhos e recordou todas as pessoas e todos os momentos e todos os sentimentos de alegria e tristeza pelos quais acabara de chorar. E quando ao vazio da força se juntou o vazio da energia e aquele vazio lhe pareceu tão cheio e quase prestes a rebentar,… No final, o vazio. Adormeceu e sonhou com lugares melhores e com momentos mais felizes e com o príncipe encantado daquelas histórias onde eles e elas vivem felizes para sempre e sonhou com o amor, aquele capaz de transpor todas as barreiras e capaz de sobreviver à vida dos amantes, aquele que verdadeiramente faz com que o “felizes para sempre” não seja uma miragem. No final, o vazio. E quando acordou sentiu que apesar de o vazio ser menor, estava cada vez mais cheio e cada vez mais a transbordar e cada vez mais pesado e cada vez mais carregado de memórias daquilo que nunca seria e... No final, o vazio.
Chorou.

No comments: