Thursday, February 23, 2006

Para alguém "especial"

Chegou a casa. Ligou o leitor de cd’s. Três músicas apenas componham aquele que ouvia de momento. O entoar da primeira melodia trouxe-lhe as recordações de outros tempos. Lembrou-se do fim. De quando tudo já doía. De quando a certeza de que a proximidade apenas escondia o afastamento que se instalara. Adorava aquele cd. Era a expressão máxima de tempos melhores, tempos mais felizes, apesar de as músicas nem sempre transmitirem isso. Sentiu as primeiras palavras penetrarem-lhe aquilo a que vulgarmente chamamos de alma como se fossem setas e alguém jogasse aos dardos. “I think I’ve already lost you. I think you’re already gone…” Aquelas palavras eram doce para os ouvidos. Não passavam de palavras, tentou capacitar-se disso. Os sentimentos tinham ficado, tiveram de ficar no passado. E no entanto, quando a música mudou, quando aqueles que tinham “vida” escrito no próprio nome sentiu o retorno no tempo. Como há um mês, há um ano, continuava ali parado no tempo, à espera, vivendo para a única coisa que sabia, parado num momento ali, com ele. E no entanto encontrava-se realmente “desperate for changing”. Uma mudança que passava por acreditar em si. Tinha posto a música como toque do telefone para que cada vez que alguém lhe telefonasse ele tivesse a oportunidade de se lembrar que a vida continua. Continua sempre. Que tinha de acreditar nele próprio. E por isso gritou. Gritou ao som da música. “Tomorrow I was nothing. Yesterday I’ll be.” Para logo de seguida encher os pulmões e alto e bom som, para que todos pudessem ouvir, “I believe in me”. A verdade é que, tal como a música diz, estava disposto a continuar, mas não sozinho. Queria que alguém esperasse por ele. Talvez, por isso, por esta última música aquele fosse um cd de esperança.
O telefone tocou. Uma mensagem. “I’m waiting for you… E nunca te esqueças. Cry if you want to… Porque o que lá vai já deu o que tinha dar.”
Desligou o leitor de cd’s. Arrumou aquelas três músicas na gaveta e fechou-a à chave. Para não mais ser aberta. Para que o passado ficasse lá. No passado.

1 comment:

Anonymous said...

Viva,



tomei liberdade de adicionar o link do teu blog no meu.

Apenas p/ notificação. Bom trabalho... E parabéns pelo Blog.