Uma manta de retalhos. Era o que sentia ao ler aquelas palavras. Não passava tudo de uma manta de retalhos. Momentos gravados pela tinta no papel. Sentimentos, muitos deles não lhe pertenciam. Encarnava-os como o actor personifica determinadas personagens. Letras que formam palavras, que formam frases, que formam parágrafos, que formam capítulos, que compõem o livro. E no fundo, e na essência, tudo é um aglomerado de letras. Resume-se numa palavra todas as vidas, vivências, experiências que a escrita lhe permitiu, permite, permitirá: letras! Sentia-se prisioneiro. Um encarcerado naquelas pinturas. Um incapacitado de viver fora do papel. Nele compunha desejos, sensações, momentos idílicos, cenários de uma apaixonante fuga ao mundo. Queria abraçá-la. Tinha o hábito de se sentar junto à lareira, olhar, do sofá, pela janela em busca do infinito. Nesses momentos encontrava novas paisagens. Locais novos onde as pessoas ternamente abraçavam os seus livros. Beijá-la. Passava horas naquela posição. Tantas quantas alguém demoraria a ler aquelas histórias que, pensava ele na modesta opinião de quem se afirmava não-escritor, pouco interesse têm. Noutros dias deitava-se na cama. Olhos fechados. Gravador ligado. Vê as personagens a ganhar vida, agir, interagir com outras personagens, Sentir-lhe a pele. com o ambiente que as rodeia. O toque do corpo. Falava, desenhava com a voz o que visionava, compunha desta forma sinfonias para posteriormente as escrever. Comunicar, A última fala de amor, paixão, da falta dela, de uma forma nova, mais física, carnal, ou simplesmente igualmente intensa. daquilo que a impede. Sem retorno. Eternamente sem retorno. A repulsa dos corpos parecia, no entanto, afastar esta hipótese. Ou talvez fosse apenas o medo. Do prazer, do novo, do desconhecido, do resultado. Um espelho do que era, é, será. (Some would say the show must go on. He, however, must not only carry on with the show, he’s obliged to entertain. It doesn’t matter how. It doesn’t matter what. The end is always a happy end.) Encontraram-se, um dia, por acaso. Cederam ao calor dos corpos. Amaram. Foram animais. São felizes.
3 comments:
...e como seria de esperar...mais uma vez, fantástico.
E qd um dia gritares ao mundo todas as palavras q constrois aqui no silêncio serás capturado.
Por ti mesmo, por alguém, ou simplesmente pela vertigem que nos enche de ausência quando tentamos decifrar o q escreves, o que pensas...como se vive nesses canais cinzentos.
Meu caro, é sempre um prazer acompanhar esses ataques! ;)
Obrigado :)
....no words to say... fantástico
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