Caminhaste pela porta entreaberta. Não te ouvi, não te vi mas pude sentir o teu cheiro. Nunca me esqueci do teu cheiro mesmo nestes tempos em que a tua cara se tornou apenas uma memória turva no meu pensamento. Não queria acreditar. Entraste, dirigiste-te ao bar, encheste um copo com whisky e sentaste-te. Eu fiquei ali, pávido e sereno a ver-te agir. Não abriste a boca durante esse tempo todo. Continuaste sem falar após te teres sentado. Eu nada disse. Não sabia o que dizer. Olhei-te reaparecer naquela casa que havia sido nossa como se duma miragem te tratasses. Ainda hoje tenho dúvidas se serias mesmo tu ou se foste apenas fruto da minha imaginação.
Bebeste daqueles copos que tínhamos comprado. Ainda hoje recordo esse dia. É dos poucos momentos de felicidade que guardo dentro de mim. Tínhamos acabado de decidir mudarmo-nos para a minha casa há muito comprada e ainda por utilizar. A casa não estava mobilada. Qualquer outra pessoa teria decidido comprar uma cama ou um sofá, mas nós não. Saímos da casa dos teus pais e fomos comprar copos de whisky. Recordo a tua cara de infantil felicidade ao mirá-los. Gastámos uma fortuna nesses copos. Cristal, porque “o whisky só pode ser bebido em copos de cristal”, dizias tu. Bebeste daqueles copos que tínhamos comprado e saíste. Da mesma forma que entraste, sem emitir um único som.
Naquela noite conversámos pela primeira vez. Num silêncio sepulcral, arrebatador eu ouvi-te e tu ouviste-me.
Passaram cinco anos desde aquela noite. Quase uma década desde que nos separámos. Faz amanhã dez anos. Ainda hoje não compreendo porque me fizeste sofrer tanto, porque desapareceste da minha vida sem uma justificação. “Tens de ter sempre um porquê”, costumavas tu protestar comigo quando discutíamos. Na verdade, não me lembro de termos discutido. Não me lembro de alguma vez termos tido uma discussão para além daquela há dez anos atrás. Viraste-me as costas e saíste. Ainda hoje não compreendo, mas aceito. Depois daquela noite aprendi a aceitar a tua decisão.
Nunca mais soube de ti. Penso que uma vez me disseram que te tinhas mudado para o estrangeiro. Não quis saber. Prefiro não saber.
Quero recordar-te apenas naquela noite em que entraste, bebeste, saíste e conversaste comigo.
Bebeste daqueles copos que tínhamos comprado. Ainda hoje recordo esse dia. É dos poucos momentos de felicidade que guardo dentro de mim. Tínhamos acabado de decidir mudarmo-nos para a minha casa há muito comprada e ainda por utilizar. A casa não estava mobilada. Qualquer outra pessoa teria decidido comprar uma cama ou um sofá, mas nós não. Saímos da casa dos teus pais e fomos comprar copos de whisky. Recordo a tua cara de infantil felicidade ao mirá-los. Gastámos uma fortuna nesses copos. Cristal, porque “o whisky só pode ser bebido em copos de cristal”, dizias tu. Bebeste daqueles copos que tínhamos comprado e saíste. Da mesma forma que entraste, sem emitir um único som.
Naquela noite conversámos pela primeira vez. Num silêncio sepulcral, arrebatador eu ouvi-te e tu ouviste-me.
Passaram cinco anos desde aquela noite. Quase uma década desde que nos separámos. Faz amanhã dez anos. Ainda hoje não compreendo porque me fizeste sofrer tanto, porque desapareceste da minha vida sem uma justificação. “Tens de ter sempre um porquê”, costumavas tu protestar comigo quando discutíamos. Na verdade, não me lembro de termos discutido. Não me lembro de alguma vez termos tido uma discussão para além daquela há dez anos atrás. Viraste-me as costas e saíste. Ainda hoje não compreendo, mas aceito. Depois daquela noite aprendi a aceitar a tua decisão.
Nunca mais soube de ti. Penso que uma vez me disseram que te tinhas mudado para o estrangeiro. Não quis saber. Prefiro não saber.
Quero recordar-te apenas naquela noite em que entraste, bebeste, saíste e conversaste comigo.
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