Adormeci de livre e espontânea vontade em direcção à cama. O calor dos lençóis clamava por mim. A suavidade, o sentimento de protecção, a sensação de ser sem ter de provar a ninguém que o era. A seda invadia os meus sentidos com a promessa da calmaria. Automaticamente fui transportado para um fim de tarde à beira-mar. O Sol a fundir-se com o mar. A maresia trazendo consigo o cheiro do anoitecer. Fitei por momentos o outro lado do horizonte. Com um calafrio a lua cheia percorreu-me o espírito. Senti-me sereno naquele fim de tarde, como não me sentia há largos anos. Posso mesmo afirmar que aquela tarde, naquele sonho foi o momento mais sereno que alguma vez vivi.
Adormeci de livre e espontânea vontade em direcção à cama. Não vi nenhuma luz. Não vi nenhum túnel. Senti apenas um calafrio ao ver a lua cheia no horizonte. A lua... fiel companheira de várias aventuras. Cheia... a transpirar sexo. Sim, sexo e não amor que a lua é selvagem e pouco dada à elegância do amor. Senti-me quase um lobisomem. No fundo, apenas uma metáfora para o apetite selvático do sexo.
Adormeci de livre e espontânea vontade em direcção à cama. Os comprimidos a percorrem o esófago. E o calafrio... sempre o mesmo calafrio a percorrer-me a espinha. O calafrio da morte, alguns dizem. E o sonho, aquele sonho sobre aquela tarde à beira-mar.
Adormeci de livre e espontânea vontade em direcção à cama. E caminhei. Caminhei em direcção à lua. Entreguei-me aos prazeres da carne e vivi. Vivi em sonho o que nunca tinha antes vivido na realidade. E senti o prazer de viver, sem responsabilidades, o puro prazer de viver.
Adormeci de livre e espontânea vontade em direcção à cama. A sensação de ser sem ter de provar a ninguém que o era preencheu-me, renovou-me, revigorou-me. Acordei. Levantei-me. E andei. De mão dada com a serenidade.
No comments:
Post a Comment